sexta-feira, 6 de março de 2009

Sobre aborto e direitos das mulheres


Essa semana um fato ganhou destaque na imprensa nacional. Um homem foi preso em Alagoinha, interior de Pernanbuco, por supeita de abuso sexual contra sua enteada de 9 anos. A violência só foi descoberta após a menina ter sido levada a uma consulta médica para tratar de dores na barriga. Na consulta veio a surpresa: constatação de gravidez de 15 semanas e de gêmeos.

De acordo com a polícia a criança era abusada desde os 6 anos de idade. Descobriu-se também que o padastro abusava de sua outra enteada de 14 anos. Ele foi preso em um matagal quando se preparava para fugir para Bahia.

Há algum tempo eu venho querendo escrever sobre aborto mas, venho adiando, achava que não devia escrever por escrever. Falar sobre aborto implica em falar sobre uma série de questões que o permeiam, muitas delas, espinhosas e conflitantes. Por isso tenho esperado o momento certo para escrever sobre.

Primeiro quero deixar claro que sou a favor da legalização da prática no país. As mulheres que optam pelo aborto devem ter o direito de fazê-lo com toda segurança e não mais se submeterem a ilegalidade que faz com muitas percam suas vidas em clínicas clandestinas. Hoje no Brasil aborto legal só em casos de estupro, risco de vida para a mãe e bebês anecefálos e, ainda sim, depois de uma burocracia imensa.

Em segundo lugar mesmo sendo a favor da legalidade em qualquer caso, não concordo integralmente com a adoção dessa medida. Acredito que é preciso, em algumas situações, mais responsabilidades nas relações sexuais. Não dá mais pra aceitar, e acreditar, que as pessoas não se previnam. Camisinha e metódos anti-contraceptivos estão a disposição da população e servem, principalmente, contra DST's. Opnião pessoal que não interfere na forma como analiso a coisa.

Os números mostram que a cada ano mais mulheres morrem em clínicas cladestinas em todo país ao recorrerem ao aborto. Muitas dessas clínicas não oferecem nem segurança e nem profissionais capacitados para realização do procedimento. O número de casos onde o aborto é bem sucecido é ínfimo em relação as complicações e ao número de óbitos. Obviamente que as mulheres que mais sofrem essas consequências são as com menor poder aquisitivo- não quero aqui entrar em uma discussão muito recorrente sobre vista grossa ao aborto nas classes mais altas -, e com menos instrução.

As complicações ocasionadas por essa ilegalidade causam, além de traumas físicos, constragimentos morais às mulheres que procuram o sistema de saúde pública para atendimento e tratamento de abortos que deram errado. Aqui faço uma resalva e chamo atenção para a violência que muitas mulheres, que sofrem aborto espontâneo, são submetidas no SUS. Muitos profissionais da saúde, independente do cargo ou posição, simplismente por preconceito tratam as pacientes como as mais vis criaturas da face da terra e as pressionam para "confessarem" que na verdade abortaram. Nada justifica esse comportamento. Aborto não é tão simples. Seja ele espontâneo ou não essas mulheres não podem e nem devem ser tratadas de forma humilhante nos hospitais públicos do país.

Também não há porque aceitar a intromição de organizações, religiosas ou não, nesse assunto que diz respeito apenas a mulher. Temos exemplos de casos onde, pricipalmente a igreja católica, emperra o processo, causando ainda mais constrangimentos, na tentativa de barra na justiça o procedimento. Alguns anos atrás a igreja consegui protelar na justiça o procedimeto em uma mulher que gestava um bebê anecefálo. A mulher dizia que estava apavorada por não podia imaginar como seria aquela criança e queria abortar porque começou com pesadelos em que seu filho nasceria com deformações.

Teve também o caso de uma mulher cuja decisão judicial pelo aborto saiu após ela ter tido a criança e ter falecido. Além do caso do padre que foi para frente de algum lugar que não lembro com algumas crinaças e questionava se elas, cujas mães haviam sofrido estupro, eram aberrações. Constrangimento duplo!

No caso dessa semana a igreja, na pessoa do arcebispo de Olinda e Recife, também se manisfestou e como não impediu o aborto excomungou todos os envolvidos com exceção da criança. Constata-se aqui mais uma forma de poder exercido sobre as mulheres e seus corpos. Não basta o Estado eleger quais casos podem ou não realizar aborto, tirando da mulher essa escolha, tem também a interferência religiosa, que precisa ser barrada em assuntos de estado, afinal somos um país laico! E só uma pergunta: cadê o livre arbítrio que ela tanto prega?

No caso de um aborto, há não ser que tenha realizado o procedimento, um homem nunca é condenado! E antes que alguém diga que homem não engravida lembro que a espécie humana não se reproduz por partenogênese! E que se fossem investigados descobriria-se que muitas mulheres que comentem aborto foram abandonadas! E acho que não preciso explicar muita coisa com o que quero dizer com isso.

O uso do recurso da excomunhão foi bem baixo, né? Utilizar-se dele em uma país onde a população professa sua fé, independente da crença, de forma tão calorosa é no minímo apelativo. O mais engraçado é que ao ser questionado sobre a excomunhão do padastro e abusador o arcebispo disse que ele cometeu um pecado gravissímo mas não ia ser excomungado porque a igreja não prevê excomunhão nesses casos e que o aborto era um pecado mais grave que o dele! Xocrível, não? Será que mandar ele tomar no cu me excomunga também ou será que eu tenho que ser mais escroto que ele e sua declaração?






3 comentários:

vinicios k. ribeiro disse...

Texto rico e bem escrito.

Bom ver ao nosso lado pessoas que partilham ideias similares.

Esse último episódio envolvendo o maldito padre é um crime, mas um crime desse religioso. Dessa igreja que normatiza e exclue.

Mayana Castro disse...

Nossa... mt fortes e mt boas suas palavras...

Dani M. disse...

Amoreco, tem um mem pra ti no meu blog. Passa lá. Cheiro!
Saudade de ti.